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O REALISMO NO CINEMA CONTEMPORÂNEO

AULA 01 – O QUE É UM FILME REALISTA?


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16 comentários em “AULA 01 – O QUE É UM FILME REALISTA?”

  1. Professor, o movimento Dogma 95 rejeitava recursos “artificiais” como iluminação extra, câmeras digitais, etc. Isso já basta para caracterizar o movimento como realista ou precisa de mais fatores?

    1. Já é uma abordagem realista, sim. Principalmente no sentido deles pensarem em métodos arbitrários que, teoricamente, transformariam as obras em filmes mais “dignos” e menos apelativos ou menos comerciais. Como se, uma vez que os filmes seguissem esse método realista e quase documental pré-definido, o trabalho já soaria mais autêntico. É uma ideia bem ingênua, mas que se adequa muito a esse tema. Na aula 02 eu vou falar mais sobre filmes que usam algumas regras realistas para parecerem mais profundos ou legítimos.

  2. Sempre que eu penso numa designação em comum pra várias obras, igual funciona com o termo “realista”, eu busco algum ponto de afinidade entre essas diferentes obras. No caso do realismo, eu costumo me orientar pensando numa ideia de desdramatização da forma. Em alguma dimensão, pela estetização e extravagância visual, mas principalmente, pela edição, pela passagem do tempo, pela escolha de qual a parte do todo que é mostrada ou ocultada. Então algo realista, no meu entendimento, sempre se aproxima do que no seu exemplo foi a obra do Kiarostami, tendo essa ideia de dilatação do tempo, essa noçao de contemplação, de tempo da vida real. Um filme igual Cidade de Deus, ultraestilizado e ultradramático, nunca seria classificado por mim como realista, pelo menos numa primeira análise. Pelo que voce falou, o entendimento do Bazin é algo perto disso, certo? E qual o seu?

    1. Faz sentido! O entendimento do Bazin passa por isso sim. Passa, principalmente, por um certo “estilo negativo” de cineastas como William Wyler e Jean Renoir que costumavam usar planos gerais e profundidade de campo para, digamos, ampliar o espaço da cena. Não eram cineastas que se utilizavam tanto da montagem, mas acreditavam muito nesse registro abrangente. Claro que, mesmo dentro disso, existe uma estilização e um artifício, mas buscavam enfeitar menos a imagem. O meu entendimento é variável, eu acho que um filme pode utilizar de vários métodos. E quando bem usado, vai passar um efeito realista. Sinto esse efeito tanto nos filmes dos Dardenne como do Kiarostami.

  3. Fico pensando se os filmes do Bresson por exemplo podem ser considerados realistas? Ainda que as atuações soem pouco naturais e bastante robóticas, os filmes me parecem sofrer influencia dos ambientes em que foram filmados. Elefante do Gus Van Sant também fico com essa mesma dúvida e pelos mesmos motivos… A aula foi ótima como sempre!!!

    1. Eu acho que o modo como o Bresson recusa uma estilização óbvia pode passar essa impressão sim. Ainda mais em filmes em que a dinâmica robótica não é tão impositiva (como no Diário de um Pároco). Como ele busca um registro mais direto dos ambientes da cena, essa impressão realista pode se fazer presente. Mas, de modo geral, eu sinto que o rigor dramático dos filmes acaba sempre indo pra um lado mais conceitual e menos natural (o que eu gosto muito).

  4. Kiarostami então poderia ser encaixado no estilo ultrarealista? Como nos filmes de Wim Wenders na fase inicial como “Movimento errado” e “Alice nas Cidades”? Onde há essa necessidade de mostrar o tempo em que as coisas acontecem a medida que são vivenciadas?

    1. Eu diria que ele tende a ser tão realista como os irmãos Dardenne, só que se utiliza de uma outra abordagem. Não diria que um é mais realista que outro, mas passam esse efeito a partir de modos distintos. Como essa abordagem do Kiarostami era mais comum em certos filmes modernos (como do Tarkovski e Chantal Akerman, por exemplo), ela acabou se tornando um padrão um pouco mais estabelecido sobre essa sensação realista.

    2. Gostei muito da sua abordagem e gostaria de acrescentar sobre os filmes ultrarealista, as obras iniciais de Jim Jarmuch também. Em “Stranger Than Paradise” a cena em que os personagens principais estão combinando a viagem, eles fumam um cigarro inteiro, além do tempo da viagem em que nada acontece e a visão da viagem é a de dentro do carro e não mostra as paisagens em que costumamos observar pela janela. Lembrei também dentro desse contexto realista de “Copacabana Mon Amour” de Rogerio Sganzerla em a personagem de Helena Ignez anda por um tempo longo o calçadão de Copacabana de forma quase interminável. Sei que os filmes de Sganzerla fazem parte do Cinema Marginal, mas observo ai também um contexto realista.

    3. Luís Guilherme Comar Freza

      Poderíamos chamar o Hong Sang-soo de um cineasta realista, mas também romântico por conta do intimismo e da “pureza das relações” que ele busca? É o que eu noto bastante em Certo Agora, Errado Antes, por exemplo.

      1. Eu acho que daria pra se encaixar sim. Em certo aspecto, as escolhas formais dele até dialogam com algumas escolhas que o Bazin defenderia (principalmente em relação ao uso de planos gerais e a uma montagem mais sutil). Porém é interessante como o Sang-soo sempre propõe alguma manipulação mais arbitrária e menos realista de modo pontual. Muitas vezes usa o zoom de modo artificial e organiza a estrutura das narrativas de modo quase experimental.

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